
Há 12 anos escrevia:
Hoje, mais um amigo me perguntou se vale a pena “largar tudo e ir para a Europa”. Fiquei lisonjeado por servir de referĂŞncia e respondi: para mim, esta pergunta rivaliza com outras transcendentais — de onde viemos, para onde vamos? — em grau de especulação. E de subjetividade. A motivação para partir Ă© Ăşnica, pessoal, intransferĂvel — por isso, impossĂvel de medir com a rĂ©gua dos outros
E segui…
Para mim, sim, sempre vale a pena seguir o instinto e… largar tudo. Mesmo com todos os “sim, mas…” — mas meu emprego, mas minha famĂlia, minhas raĂzes — no caminho. O “sim, mas” Ă©, no fundo, uma licença poĂ©tica que a gente concede Ă prĂłpria covardia. E ser covarde, talvez, seja acreditar que o mais sensato Ă© permanecer intacto, sem riscos.
Posso afirmar com tranquilidade: ao olhar para trás, com 30 anos recĂ©m-completados, cinco paĂses vividos como casa e mais de trinta carimbos na bagagem (o Ăşltimo, da BĂ©lgica, de onde voltei ontem!), sinto um orgulho sereno pelas escolhas que fiz.
Viajar foi — e ainda é — a forma mais profunda que encontrei de me entender como ser humano nesse mar de sete bilhões. “Ser” me move muito mais do que “ter”.
Como não se encantar com as tantas formas que o mundo encontra de ser casa? Em cada lugar, mudam os gestos, o tempo, os valores. Para uns, o trabalho é tudo; para outros, apenas meio. Há quem more no futuro, e quem habite o agora. E, nesse contraste, a gente entende que lar não é endereço — é estado de alma.
O que posso dizer, no fim, é que ousadia e desapego nunca são demais para quem quer ver o mundo de verdade. Ir — esse verbo simples — é o que realmente importa.
Espero que minha resposta nĂŁo te influencie, meu querido amigo
đź“· Foto preferida: Machu Picchu, Peru, 2009