O Monte COVID

Ainda na base, balbúrdia: não há uma estratégia clara para atravessar a montanha. O desafio é inédito e a informação escassa e desencontrada, apesar do grande esforço de geólogos e topógrafos em buscar uma solução rápida e segura para a travessia.

Alguns alpinistas decidem partir sozinhos. Arrogantes, pedem aos demais não serem histéricos, já que “essa montanha não pode ser muito diferente das outras”. O argumento convence alguns poucos aventureiros experientes e melhor equipados, mas notoriamente há montanhistas despreparados entre eles. Os lacradores não perdem tempo em divulgar aos quatro cantos que serão os primeiros a chegar ao outro lado, onde um acampamento foi montado.

Enquanto isso, os mais prudentes debatem sobre experiências passadas semelhantes que podem ser úteis para afrontar o colosso. Acreditam que a cooperação será essencial. E há muitos bons argumentos para acreditar que estão certos: mais olhos significa mais possibilidades de encontrar trilhas alternativas e traçar melhores estratégias; se fraquejarem poderão contar com o apoio moral e físico dos outros; subir em equipe facilitará que haja mais diversidade de meios de substência disponíveis.

Eles começam a subir. Os solitários se apressam e tomam caminhos diversos. O grupo se move lentamente. Os dias passam, já são semanas de escalada. Um dos montanhistas do grupo passa mal e, apesar do cuidado dos companheiros, não resiste. O sentimento de vulnerabilidade aumenta quando, ao seguir a escalada, eles encontram alpinistas solitários mortos. São muitos. Angustiados, eles chegam a duas conclusões: tomaram a melhor decisão e precisam buscar uma rota alternativa se quiserem vencer a montanha. É quando um deles avista o que parece ser um caminho menos íngrime. Com o ar rarefeito e os nervos à flor da pele, tomar uma decisão coletiva se torna um caos. Apesar do debate intenso, eles persistem em estarem unidos. E decidem pelo caminho alternativo. É um grande acerto! Incrivelmente, a montanha se aplana e o grupo começa a descer pelo lado oposto até chegar à base. Estão extenuados depois de dois meses de caminhada, conscientes que precisarão de alguns dias para se recuperar fisicamente e superarem o trauma, mas sobretudo VIVOS.

Enquanto isso, helicópteros sobrevoam a área. O cenário é desolador: a montanha se levantava mais e mais sobre os corpos falecidos dos que pensaram serem capazes de vencer o grande desafio sozinhos. “O pico parece não chegar nunca”, diz o repórter, que sem saber noticiava uma alegoria. A do Monte COVID.

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