Um ano depois de foto icônica de fila no Everest, teto do mundo está vazio

Uma reportagem no jornal espanhol EL PAÍS deste sábado, 23, relembra um ano de uma das fotos mais populares de 2019. Em 22 de maio, Nirmal Purja (Myagdi, Nepal, 1984) estava perto do topo do Everest. O escalador nepalês havia coroado o teto do mundo (8.848 metros) e se encontrava em plena descida quando foi atropelado pela multidão. Mais de 200 pessoas tentavam a ascensão, em um congestionamento humano jamais visto na montanha mais alta do planeta. Purja não conseguia avançar. A aglomeração ameaçava se tornar uma armadilha mortal. Ele então tirou as luvas e fez uma fotografia espetacular, tremendamente significativa daquilo que o Everest virou: um destino para turistas que as companhias comerciais oferecem a preço de ouro, sem importar o preparo físico ou técnico dos clientes.

“Fiquei totalmente preso naquele congestionamento de gente lá em cima”, contou Nirmal Purja ao EL PAÍS. “Eu estava descendo. De repente, fiquei parado, sem conseguir me mover. Havia mais de 200 pessoas tentando subir. Olhei ao redor e fiz a foto. Tirei as luvas. Tinha as mãos geladas e os dedos dormentes, mas queria fazer a foto como prova do que estava acontecendo. Claro que estava preocupado quando vi aquela fila gigantesca. O vento era de 35 quilômetros por hora. Se fosse de cinco a mais, teria havido mais mortos naquele dia.”

Onze pessoas morreram neste engarramento, enquanto desciam, devido à longa exposição a temperaturas desumanas e ao esgotamento físico, o que fez o governo do Nepal, por onde escalam a maioria dos alpinistas (outras opções são subir pelo caminho tibetano ou chinês), anunciasse medidas para evitar que a vergonha mundial se repetisse.

Acontece que por conta da pandemia de coronavírus as expedições estão interrompidas desde março. Como abril e maio são os meses mais populares para a aventura, quando há possibilidade real de engarrafmento devido ao bom tempo na região, só será possível saber se as novas regras serão efetivas na primavera de 2021.

Que mudou?

Desde que a subida se popularizou, na década de 1990, a grande maioria dos escaladores precisam de auxílio profissional para escalar os 8848 metros do monte. Enquanto os guias locais, os sherpas, cobram cerca de cinco mil dólares por expedição, os guias ocidentais chegam a pedir cinquenta mil. Semanas depois do desastre há um ano, o governo do Nepal anunciou novas regras: necessidade de apresentar certificado de saúde, certificado de aptidão técnica, revisão de currículo de subidas e a obrigatoriedade de subida anterior a um montanha de ao menos 6 mil metros na região. As medidas, dizem os críticos, servem apenas para que o governo fature mais, já que não ataca o principal problema: limitar a quantidade de montanhistas que podem aventurar-se ao mesmo tempo.

Como as novas medidas são relativamente fácil de serem cumpridas, os especialistas temem que no ano que vem, com a demanda reprimida, aconteça uma nova tragédia. Enquanto isso, uma expedição chinesa com 53 pessoas, entre alpinistas, cientistas e topógrafos, espera o melhor momento para começar uma nova escalada. Os objetivos são medir os efeitos das mudanças climáticas na região e confirmar a altitude da montanha. A China defende que o limite deve ser o topo da pedra mais alta, enquanto o Nepal que se deve medir a altura sobre a neve, o que pode resultar numa diferença de quatro metros. De momento, ao menos o debate é inofensivo.

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