O Cirque de Soleil à beira da falência, a concentração de renda e o coronavírus

À beira da falência, conseguirá o Cirque du Soleil sobreviver ao coronavírus?, pergunta reportagem do The New York Times reproduzida no UOL. Além de ficar surpreso com a notícia, cuja primeira reação foi me encorajar a renegociar minhas dívidas (se até o maior circo do mundo está mal das pernas por causa da pandemia e tentando esticar a corda, quem sou eu para não fazer o mesmo?), a reportagem também revelou informações que nos ajudam a entender a encalacrada do capitalismo em 2020. Diz:

1- “Mesmo antes da pandemia, a companhia estava enfrentando problemas devido ao crescimento excessivo e à fadiga criativa, depois de ter sido adquirida por um consórcio liderado por um grupo americano de capital privado em 2015 e de acelerar uma expansão mundial alimentada por endividamento cada vez mais alto”.

2- O grupo também está estudando opções de reestruturação que incluiriam um possível pedido de concordata. Pierre Fitzgibbon, o ministro da Economia da província de Québec, disse que o governo tinha chegado a um acordo em princípio sob o qual adquiriria uma participação majoritária no Cirque du Soleil se o grupo TPG e o conglomerado chinês Fosun International, os dois principais acionistas atuais, decidirem abandonar o investimento.

3- “Alguns críticos dizem que os problemas do Cirque du Soleil surgiram antes da pandemia e que sua inspiração artística revolucionária deu lugar a histórias simplórias e a espetáculos cafonas, por exemplo acrobatas com fantasias de sapo.”

Artistas do Cirque de Soleil contam como vivem a quarentena pelo mundo

Para mim, soa quase antinatural um circo ser propriedade de um fundo de investimentos. Quando penso num picadeiro, vem à cabeça a imagem de um coletivo de pessoas talentosas que vivem de sua arte e se movem de um lado a outro para compartilhar sua arte. Mas o Cirque de Soleil, como a comida que eu e você comemos, a roupa que eu e você vestimos, a casa em que eu e você moramos, a notícia que eu e você lemos, rapidamente se está tornando propriedade de menos e menos. “A Riqueza de bilionários dos EUA cresce mais de meio trilhão de dólares na pandemia”, revela estudo do Instituto de Estudos de Políticas dos Estados Unidos “Estas estatísticas nos lembram que estamos mais divididos econômica e racialmente do que em qualquer época em décadas”, diz Chuck Collins, um dos autores.

Edifícios de luxo do Morumbi, em São Paulo, mistura-se com favela

Enquanto isso, no Brasil, bancos travam bilhões liberados pelo governo para salvar microempresários na crise do coronavírus. No planeta onde número de bilionários do mundo duplicou nos últimos dez anos e essa camada já soma mais recursos que 60% da população mundial, talvez a pergunta mais importante quando essa pandemia passar será: o show tem que continuar?

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