Madri, cidade-fantasma, e o drama para quem vive do turismo…

Local fechado no centro. Abrirá outra vez?

Madri está irreconhecível. A capital mais viva do mundo, onde impera aquela festa nada da qual não gosta o impressionante ministro Paulo Guedes,

lugar no qual locais, estrangeiros e turistas convivem e celebram a vida numa simbiose digna de almanaque de biologia, é uma cidade silenciosa. Não tem nada a ver com a urbes que conheci em dezembro de 2011, pela qual me apaixonei imediatamente.

É bem verdade que a partir da segunda quinzena de julho, menos gente costuma andar andar por aqui. O verão aperta e os vizinhos deixam o centro da península rumo aos impressionantes 7.905 km de costa do país (O Brasil tem 7 491km). Mas nesse estranho ano de 2020, o cenário é desolador: os locais ou se foram ou saem menos de casa, sem dinheiro para gastar; e os turistas simplesmente sumiram. O jornal EL PAÍS de hoje resumiu a sensação de caminhar pelas estreitas e peatonais ruas do centro: “Madri ficou sem turistas”.

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O centro da cidade, onde diz o jornal, “a política do turismo de massa esqueceu a palavra vizinho”, está deserto. Nem sinal da babilônia linguística característica de Malasaña, o bairro moderninho daqui. Nem dos ônibus vermelhos de dois andares que cruzavam a Gran Vía a qualquer mirada. Nem dos gringos vestidos com bonés e camisas de Madri. Muito menos dos batedores de carteira, que além de mais trabalho para atuar, ainda são facilmente identificados.

Nas lojinhas de souvenir, haja engenhosidade para dar vazão ao estoque. Nos bares e restaurantes, garçons batalham pelos poucos transeuntes com ofertas que mudam a cada momento, a depender da necessidade. Os guias com seus guarda-sóis coloridos oferecendo passeios gratuitos, os onipresentes free walking tours, até são avistados, mas lideram grupos muito menores que o pelotão com quem eram vistos.

O El PAÍS deu número ao drama: a ocupação média dos hotéis não chega a 22% e a rotatividade caiu 65%. 40.000 cidadãos com máscaras visitaram o Museu do Prado no mês passado, contra os 250.000 a menos de um ano atrás. Guernica? De 4.500 visitas por dia a 500.

O resultado bombástico da mistura de quatro meses de covid-19 somado ao verão para Madri é deprimente, e a cada dia mais visível. Placas de aluga-se, vende-se ou passo o ponto se multiplicam, assim como a preocupação nas caras dos comerciantes pensando no outono logo ali. Setembro costuma ser de muito movimento numa cidade onde já se respira um clima ameno. Madri vira a queridinha dos espanhóis. Mas nesse ano? Num país onde o tema predominante nos telejornais é o rebrote do vírus, impossível prever. De momento, agarro-me numa frase clássica do cinema. Eu sei, eu sei… “We always will have Madrid”.


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