O turismo, o ministro e a nossa desgraça

Beleza dos Lençóis: pouca gente vê.
Beleza dos Lençóis: pouca gente vê.

Os Lençóis Maranhenses são um dos lugares mais impressionantes por onde andei. Antes de desbravá-los, não tinha muita idéia do que encontraria. Passei a viagem toda exclamando: ow, ooooow, oooooooow!  

Além da beleza, outra coisa me pareceu impressionante: a pouquíssima quantidade de turistas subindo e descendo as dunas, nadando nas lagoas, embrenhando-se pelos mangues, bronzeando-se na praias. Numa área equivalente à da cidade de São Paulo, vi no máximo 20 viajantes. Para se ter idéia, eu e Moisés — meu aventureiro amigo kuwaitiano — éramos os único hóspedes na charmosa pousada Sossego do Cantinho.

Grupo de turistas passeia pelas dunas
Grupo de turistas passeia pelas dunas

Veja mais: Quando ir aos Lençóis Maranhenses?

Nos restaurantes, avistei apenas alguns locais. Meu estranhamento era ainda maior sabendo que, com o dólar caro — R$ 3,80 no dia que escrevo –, muita gente deveria ter tomado o rumo do Nordeste em detrimento do exterior. Mesmo que seja baixa temporada. E mais: se houvesse um bom trabalho público dos agentes brasileiros, muitos norteamericanos — cujo país não está a mais de cinco horas de vôo direto a São Luís — ou canadenses — no augue do inverno — deveriam estar lá, compartilhando no cenário singular milhares de fotos em todas as redes sociais existentes. Nem mesmo as grandes cadeias de hotéis internacionais, que não tardam a aparecer quando notam oportunidades, ainda deram as caras.

A coisa vai mal, e me fez lembrar do nosso fracasso turístico. O quinto maior país do mundo é o 41º a atrair mais estrangeiros. Passaram por aqui em 2015 — ano atípico por conta da Copa do Mundo — apenas cerca de seis milhões de visitantes.

Cristo Redentor, símbolo do Rio: monumento e cidade mais visitados pelos estrangeiros no Brasil
Cristo Redentor, símbolo do Rio: monumento e cidade mais visitados pelos estrangeiros no Brasil

Para se ter idéia do desastre: mais gente vai à Polônia, a Macau, à Ucrânia, a Cingapura, a Marrocos, ao Vietnã, do que se anima deixar sua casa e conhecer o Cristo Redentor, a Bahia de Todos os Santos, as Cataratas do Iguaçu, a Amazônia…

Comprando-se com nossa região, aterrissam no México quatro vezes mais turistas que no Brasil por ano. A Argentina, quase quatro vezes menor, recebe mais gente que nós.

Oito milhões: é o número de visitantes ao Louvre, em Paris, por ano. O Brasil recebe seis milhões
Oito milhões — dois a mais que o Brasil — é o número de visitantes ao Louvre, em Paris, por ano

Veja mais: saiba quais são os 50 países mais visitados do planeta

Por que será?

Há algumas hipóteses plausíveis:

1- Somos um país muito grande e de língua complicada. A Rússia também é e recebe cinco vezes mais estrangeiros;

2- Somos um país perigoso. O México, em guerra sem fim contra o tráfico, carimba  20 milhões de entradas anualmente; Marrocos, um país africano em ebulição, a ponto de um ataque terrorita, recebe duas vez mais gente que nós;

Veja mais: Os riscos de viajar para o Brasil na visão dos países desenvolvidos

3- Ficamos longe dos países que mais enviam viajantes. A África do Sul é ainda mais isolada e ainda assim 40% mais pessoas visitam o país mais rico da África que a 8ª maior economia do mundo.

A resposta parace ser outra…

Ao ver ontem o ministro do turismo, Henrique Eduardo Alves, filiado ao PMDB, entregar sua carta de demissão se antecipando à debandada do partido da base de apoio ao governo, tive um forte indício dos motivos do nosso fiasco:

Alves, agora ex-ministro: tá tranquilo, tá favorável
Alves, agora ex-ministro: tá tranquilo, tá favorável

a Indústria que já representa 9% do PIB mundial e é vista como estratégica tanto por protagonistas globais como por outros que enxergam nela uma saída para sua falta de competitividade em outros setores, é somente uma escala fisiológica de poder no país do futebol. Sem estratégia, sem planejamento, sem metas e nem ações. É.. assim… um Carnaval.

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