VEJA, as mulheres e o reacionarismo sem limites

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Dilma e Marcela: de mulher pra mulher

Pode-se especular que a morte é apenas uma passagem. Pode-se atrever dizer que a iminente saída da presidente não é um golpe. É possível até argumentar que Michel Temer é um democrata e eventualmente fará um bom governo, nem que seja para 1% dos especuladores que ninguém vê. Mas de uma coisa — bem menos importante, é verdade — não há dúvida: a VEJA* é a empresa mais inovadora do Brasil.

A revista é insuperável em todas as frentes. Em distribuição, deixou as bancas de jornal e agora pode ser encontrada ao lado das frutas — geralmente das bananas — em qualquer supermercado. É como se aproximasse seus leitores dos primatas, ou subliminarmente indicasse que o QI mínimo para ler suas reportagens profundas é de um mono. Para se inserir nas mídias digitais, cruciais para a sobrevivência do jornalismo remunerado, criou a TVEJA. É um canal de conversa entre compadres reacionários que geralmente tem menos visualizações que um vídeo de aniversário infantil. Para comandar a bancada de entrevistas do seu antenadíssimo canal, há até pouco contava com um loira histriônica, demitida, segundo versão dela, por pressão do PT. O PT pressionou a VEJA!!! Quá, Quá, Quá. 

CUIDADO, IMAGENS FORTES!

Agora, para seguir sua trilha iconoclasta, foi além: pediu para uma repórter da Caras — a revista da Ilha que nem mesmo em salão de beleza é mais vista — fazer um perfil de Marcela Temer, a esposa do vice-presidente. Parênteses: para Veja, Temer já é presidente, e sua esposa, a primeira-dama. É também uma revista de astrologia.

A reportagem é ultrajante (link ao final). É difícil situá-la entre o nonsense, o inacreditável e o ficcional. O certo é que a repórter caprichou na apuração. Soube até o que foi dito numa sala blindada onde havia duas pessoas. É também pobre, superficial e mal escrita, como quase toda tinta gasta na publicação.

O texto começa afirmando que Marcela “é uma mulher de sorte” por ser casada com Temer. Arremata nos contando que “sorte mesmo tem Temer” ao lado da mulher 43 anos mais nova que ele. Mas o que é sorte para VEJA? 

Segundo a revista, Temer é sortudo por estar ao lado de uma mulher “bela, recatada e do lar”. Para confirmar o que diz, “dá provas” dá prova dos adjetivos, numa demonstração de falsa-intimidade constrangedora com o poder.

Aos fatos: A bela “já concorreu a miss” e “frequenta o salão de um dos mais caros cabeleireiros do Brasil”; a recatada “jantava dia desses numa sala blindada de um restaurante luxososo de São Paulo, perfeito para receber apenas “Mar” e “Mi”, como são chamados em família; a do lar, “não trabalha e passa o dia em casa cuidando do filho do casal, Michelzinho, de 7 anos”.

Ela, por seu turno, é uma felizarda. Afinal de contas, quem não quer ser mulher do presidente da República (sic), um homem que “há treze anos continua a lhe dar provas de que a paixão não arrefeceu com o tempo nem com a convulsão política que vive o país”. Michel é, acima de tudo, nossa solução, subtende-se. 

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Vamos recaptular o manual de felicidade de casal segundo VEJA:

Para homens: mantenha sua esposa em casa e a convide para um restaurante caro. De preferência, case-se com mulheres 40 anos mais novas. Esteja sempre apto a trair descaradamente seu/sua chefe, principalmente se ele/ela for presidente da República.

Se for mulher, as regras para um casamento perfeito: seja loira, linda e milionária. Fique em casa, de preferência fazendo o que seu marido pedir. Não se posicione, muito menos se sua opinião for contrária à do seu amado e principalmente se ele estiver chegando cansado do trabalho.

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Lembre-se que, como sempre noticia (sic) a Veja em suas capas agressivas, desmedidas e desequilibradas — em nome da liberdade de imprensa (sic) –, uma mulher presa e torturada nos porões da ditadura, politizada, decidida e eleita duas vezes para o cargo mais importante do país pode ser o passaporte para o seu desastre. Você pode se tornar Dilma Rousseff. Ou ainda pior: submeter-se a ser uma repórter desavisada de VEJA.

Leia (por sua conta e risco) aqui a reportagem

*A VEJA — a esta altura dos acontecimentos vale a pena esclarecer, principalmente para quem nasceu nos 90’s — é uma revista semanal que dizem as boas línguas um dia praticou jornalismo.

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