Diário da Índia [4]: fé que mata e faz rir

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Alguns textos foram escritos antes de o Andar Andar existir, mas contam histórias que podem ser úteis para futuros viajantes, ou apenas curiosas.

Índia, maio de 2015 — Dizem que a filosofia é a teoria da prática. A religião, o oposto, seria o exercício de alguma tese. Enquanto o amor ao saber vem claramente perdendo espaço em todo o mundo — quem reflete em tempos nos quais se vive apressado, no piloto automático? –, a crença na existência de um poder ou princípio superior segue em expansão. Basta dizer que o número de religiões passou de mil, em 1900, a mais de dez mil, em 2012.

No mundo ocidental, o aumento de fiéis veio acompanhado do fair play religioso: aceitamos as diferenças sem — muita — violência. Na Índia, como em grande parte do Oriente, o desentendimento sobre qual tese deve prevalecer mata. Lembrei-me disso ao passar cerca da Caxemira, uma região espremida entre o território indiano, a China e o Paquistão. Lá, 10 milhões habitam sem passaporte. A maioria muçulmana quer a independência, mas há… a minoria. Principalmente hindus. Diante do impasse, o resultado foi um passado sangrento e de diáspora de uma multidão; e um presente explosivo (leia mais clicando sobre o pin abaixo).

Ao chegar a Jodhupr (no extremo oeste indiano), depois de 17h de viagem de trem, descobri que, felizmente, a fé também rende gargalhadas no segundo país mais populoso do planeta

Lançado no final de 2014, mas ainda anunciado em muros por toda a cidade em maio do ano seguinte, “PK”– expressão usada na Índia para perguntar se uma pessoa está bêbada –, uma produção de Bollywood (a Hollywood indiana), tornou-se a maior bilheteria da história local.

O filme é uma paródia à religião feita por um extraterrestre ao descobrir que os humanos são extorquidos e enganados por seus pares em nome da fé. Conhece essa história?

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Teaser de PK, fenômeno de bilheteria na Índia

O e.t. tinha total razão, ainda mais em se tratando da Índia. Se é verdade que no país a maioria das pessoas acredita no karma — a teoria que diz que vida é um ciclo que não começou nem termina nesta existência, e que a qualidade da vida atual, inclusive se nascemos humanos ou bichos, depende do nosso das condutas e ações em vidas anteriores –, também e notável que pouco se faz para melhorar de condição na próxima vinda a este planeta. Nunca me senti tão ludibriado como lá... Podia ser numa viagem de táxi (viagem muito mais longa que deveria), na compra de uma garrafa de água (já aberta), na contratação de um tour (prometido muito distante do realizado), em pequenos e grandes gestos.

O que terá aprontado o etzinho do filme numa vida passada?


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