Interditar ou prender?

Para um psiquiatra, Jair Messias Bolsonaro deve ser um perfil fascinante. Neste momento transcendental do mundo, queria ser um deles para divagar com autoridade: ele é apenas perverso convicto ou deve ser internado por delírio, por descolamento total da realidade, por incapacidade mental? O que diferencia uma coisa da outra? A dificuldade dele em se expressar é apenas limitação vocabular ou deficiência intelectual aguda? As duas coisas? E o gesto robotizado, movendo os braços para cima e pra baixo, como se houvesse um atraso entre o pensamento e a fala, que é ajudada pelo movimento, é motor ou diz algo mais?

O problema é que essa pessoa psiquiatricamente fascinante por sua complexidade simplória é o presidente de 210 milhões, e muitos desses adoeceram ou adoecerão, e muitos outros já morreram ou morrerão, por decisões do incapaz e/ou perverso. Hoje o presidente me confundiu ainda mais ao compartilhar seu pensamento tortuoso numa live cujo cenário de fundo eram livros grossos. Iluminado, ele disse: “sem saúde a vida não é saudável”. “O senador Humberto Costa, do PT de Pernambuco, quer fazer que o pobre não tenha acesso à hidroxicoloquina¨. “Eu sei que não sou médico, mas cumpro qualquer missão. Eu sou mergulhador também”. “É bom que tem gente que possa pagar o plano de saúde. Se for todo mundo para o público, vai ficar pior ainda”. “Vai que eu vá visitar minha mãe e ela pegue coronavírus. Vão falar que eu infectei minha mãe”. “Um repórter perguntou a minha mãe: ´O Jair era de falar besteira quando era jovem´. Ela disse que não. No outro dia, sai a reportagem: ´Dona Olinda: Jair não falava besteira´. Agora ele fala besteira´(não fica claro se ela ou o jornal fez a segunda afirmação ). “A imprensa me bota falando um palavrão e depois pergunta. ´Vê se esse homem está à altura da presidência´. Não é por aí meu deus do céu”.

Foram registradas 20.082 mortes por Covid-19 no Brasil. Bolsonaro não se solidarizou com a família dos mortos. E pouco nos contou do está fazendo para preservar a vida dos vivos. ¨Vamos repassar dois bilhões para as Santa Casas, por onde eu tenho grande carinho. Afinal foi numa delas que eu REnasci de novo no dia MEIA dúzia de setembro 2018″. Também usou um raciocínio irrefutável: “se nós dizemos a vocês que a máscara evita o contágio, vão poder trabalhar, pô, de máscara. Porque se não puder trabalhar de máscara, é sinal que a máscara não funciona”. Aqui me inclinei por sua deficiência cognitiva.Ele então seguiu tratando de assuntos preocupantes. Contou-nos que amanhã vai ligar para a delegacia de Itapiraí, e que por favor o atendam, já que antes tentou e desligaram pensando que era trote. Ele quer visitar a cidade em breve. Também que está em contato com a Marinha para liberar a prática de jet-ski em algum lugar do Vale do Ribeira. Que conseguiu evitar a obrigatoriedade da troca de tacógrafos nos caminhões. E de taxímetros nos táxis. Que “o que pegou com Regina Duarte foi a família dela”. “Mas ela fai estar conosco na CinemOteca (isso, cinemoteca) ou outro órgão qualquer (literal) da Cultura já que não podemos perder a namoradinha do Brasil”. Que esteve com o prefeito Marcelo Crivella discutindo a volta do futebol, “do futebolzinho do domingo”. Quase ao fim do bate-papo com camisa amarela gema de algum time, fui obrigado a reconhecer que há outra possibilidade para o ser-Bolsonaro. “Desculpem os médicos, mas quando tenho insônia tomo coca-cola e fico bom”: Bolsonaro pode ser mesmo de outro planeta.

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